Serial Killer Groupies: As tietes de psicopatas assassinos

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Charles Manson e sua namorada Star
Há pessoas que se absorvem em seu fascínio por notórios serial killers (assassinos em série). Algumas dessas pessoas se tornam groupies que procuram e perseguem o objeto de sua obsessão. Incrivelmente, existem groupies que até se tornam amantes ou esposas de um predador infame.

Por exemplo, Richard Ramirez (o Night Stalker) se casou com uma jornalista e groupie obcecada, Doreen Lioy, em 1996, enquanto aguardava execução na Califórnia. Doreen prometeu cometer suicídio no dia em que Ramirez fosse executado, mas ele morreu de insuficiência hepática enquanto ainda estava no corredor da morte em 2013.

O lendário ex-analista criminal do FBI Roy Hazelwood comentou sobre um comportamento tão extremo:
Há algumas pessoas (principalmente mulheres, mas também homens) que são fascinadas por correspondência ou encontro com criminosos em série. Aqui estou me referindo aos indivíduos que correspondem não para conhecer, mas para [desenvolver] um relacionamento. Algumas mulheres até "se apaixonam" por esses homens, acreditando que eles foram mal interpretados. Essas pessoas, na minha opinião, geralmente têm baixa auto-estima. Ao interagir com os serial killers, elas preenchem sua própria necessidade de atenção.

Hibristofilia é uma parafilia em que a excitação sexual, facilitação e obtenção de orgasmo são sensíveis e dependem de estar com um parceiro conhecido por ter cometido um ultraje ou crime, como estupro, assassinato, ou assalto à mão armada —Wikipedia.

Seria essa a explicação para o fenômeno das "Serial Killer Groupies"? O que faz mulheres amarem um serial killer? Seriam elas loucas e ignorantes? Apesar de parecer surreal, o número de mulheres apaixonadas por psicopatas assassinos é grande, maior do que você possa suspeitar.

Uma carta de amor

Que bom receber uma carta tua, é sempre uma felicidade suprema… Ah! Que maravilha, é um banho de amor na minha alma!!! No meu coração, no meu corpo, no meu ser!! Te adoro menininho, te amo de paixão!!! … todo o dia tenho te escrito uma carta, é uma necessidade de estar junto contigo, de alguma maneira perto de ti, meu homem meu noivo amado.

Querido, deves neste momento estar na Barra Funda [nota: bairro de São Paulo onde estava sendo julgado] e eu aqui rezando muito para que Deus te proteja e que tudo seja o melhor para ti, pra nós!! Desta vez a imprensa não falou nada… Bem melhor assim, tenho horror que falem mal de ti, detesto isso, acho que devem te esquecer, porque não reconhecem o novo homem maravilhoso que és. As pessoas mundanas são assim a eles não interessa o que é bom!!!

Quanto as peruas que te chateiam, não fala mais destas burronaldas, eu tô pouco me lixando pra elas. Que vão pro inferninho delas!!! [nota: aqui ela se refere às mulheres sobreviventes dos ataques e que testemunhariam contra ele] Não precisas me dizer nada, eu confio cegamente irrestritamente em ti. Nós dois somos uma só pessoa, uma só alma, um só amor! Isso sim é que é maravilhoso. Você me basta, e se você fosse libertado seria a mesma coisa, o mesmo amor. Puxa, nunca pensei que um dia fosse me apaixonar desse jeito. … Coisa linda minha, meu moreno sarado, tu tens uma boca linda e olhos maravilhosos e expressivos, e estes cabelos negros divinos, és um belo homem!!! Inteligente, muito inteligente, nossa!!! Você é maravilhoso, e de beleza espiritual incrível, que é o que mais admiro em ti, o teu espírito, tua alma, que Deus te conserve e te abençoe.
[Carta de amor enviada ao Maníaco do Parque. Trecho retirado de “Loucas de Amor, mulheres que amam serial killers e criminosos sexuais”. Gilmar Rodrigues. Ideias a Granel, 2009]



O buquê de Ervilhas-de-cheiro

O ano era 1895. A cidade San Francisco, Califórnia. O evento era o julgamento de William Henry Theodore Durrant, canadense de nascimento e um dos primeiros serial killers documentados da América. O rapaz de 23 anos era um médico em formação na Faculdade de Medicina Cooper e um superintendente na escola dominical de uma igreja batista. Bonito e educado, com a aura de um jovem inocente, Durrant era visto como tímido e um pouco estranho.

Michael Newton, em “A Enciclopédia dos Serial Killers”, descreve a primeira vítima de Durrant como sendo Blanche Lamont, 20, que havia sido vista pela última vez acompanhada do jovem tímido entrando na igreja. Outra jovem, Minnie Williams, 20, também foi vista com Durrant antes de desaparecer e rumores diziam que ela havia dito a amigos que sabia o que havia acontecido com Lamont. Williams acabou dentro de um armário da igreja, esfaqueada no peito e amordaçada com um pedaço de pano que foi empurrado profundamente em sua garganta com uma longa vara. Ela havia sido estuprada tanto antes quanto depois de sua morte.

No Domingo de Páscoa, a igreja foi fechada para que a polícia pudesse fazer uma busca. No campanário, foi encontrado o corpo nu de Blanche Lamont. Devido a decomposição do corpo, o médico legista não investigou se ela poderia ter sido estuprada, mas marcas de estrangulamento eram claras, e indicavam que ela havia sido atacada por trás. Após sua morte, ela foi escorada em blocos de madeira, de uma maneira que sugeria experiência médica (embora a faculdade de medicina negasse posteriormente a suspeita).

Durrant foi indiciado e rapidamente apelidado de “O Demônio do Campanário”. Seu julgamento de três semanas se tornou uma sensação internacional, com dezenas de manchetes de primeira página. Mas o que mais surpreendeu a todos não foi o assassino ou seus bizarros crimes e sim as dezenas de mulheres de todas as idades que se reuniram no tribunal para ter um vislumbre da “boa aparência” do psicopata. Elas se acotovelavam para sentar na primeira fila e repórteres femininas notaram o quão tolas elas eram e expressaram vergonha para com seu gênero.

O comportamento desconcertante para todos na época foi visto como um sinal da decadência moral da sociedade, mas mais de 100 anos depois, podemos dizer que o episódio foi um estágio inicial de uma tendência mundial quando falamos em crime: a de que homens brutais inspiram não o horror, mas a curiosidade, devoção e, acreditem se quiserem —para muitas mulheres —, o amor platônico.

No caso Durrant, uma de suas admiradoras se destacou e até virou uma espécie de celebridade local.
Em 1895, por exemplo, durante o julgamento do assassino sexual de São Francisco Theo Durrant, uma jovem chamada Rosalind Bowers aparecia na sala do tribunal todas as manhãs com um buquê de ervilhas-de-cheiro, que oferecia ao ‘demônio campanário’ como um símbolo de sua admiração. Em pouco tempo, os jornais tinham transformado a ‘Garota da Ervilha-de-cheiro’ em uma pequena celebridade, prenunciando o tipo de atenção midiática conferida às tietes de serial killers de hoje, cujas estranhas paixões são o tópico favorito de tabloides vendidos em supermercados e talk shows baratos na TV.
[Harold Schechter, Serial Killers – Anatomia do Mal, página 471]

Rosalind Bowers chegou a tentar ver Durrant em sua cela, mas ele se recusou. Ainda assim, e como relata Schechter, ela continuou comparecendo ao tribunal até a mídia prestar atenção nela. Bowers se tornou a “Garota da Ervilha-de-cheiro” e era uma atração a parte. Curiosos que assistiam ao julgamento ansiavam por sua chegada para observar como seria seu ritual. Um repórter chegou a sentar ao seu lado para observar suas poses e gestos melodramáticos. Parecia haver pouca dúvida de que ela queria atenção. Posteriormente descobriu-se que ela era casada e seu marido, claro, ficou indignado ao saber de suas atividades.

Seja lá qual fosse o seu motivo — ajudar Durrant a ganhar a simpatia do júri; chamar atenção; se apresentar a Durrant; ou algo mais pessoal —, ela certamente conseguiu trazer uma nova dimensão ao julgamento. Moralistas da época viram a atenção excessivas de mulheres a um assassino sexual brutal como a indicação final de que as mulheres não estavam prontas para a independência, o comportamento só mostrava que certas coisas, como detalhes escabrosos de crimes, não deviam ser ditos a qualquer um, muito menos mulheres.

Mas a atenção da platéia feminina não ajudou o rapaz que foi considerado culpado dos dois assassinatos e sentenciado a morte. Ele foi enforcado em 3 de Abril de 1897, no segundo aniversário da morte de Lamont. Ele jurou inocência até o seu último respiro.

Bowers desapareceu na história, mas sua peculiar fixação colocou um grupo de pessoas no radar de estudiosos. Esse grupo — a maioria mulheres —, são “piolhos” de julgamento e prisões, e vão até esses lugares para chamar atenção de assassinos psicopatas e serial killers. São as tietes, fãs de serial killers. Muitas delas são mulheres inteligentíssimas, formadas e com uma boa posição social e profissional. São tenazes e fazem coisas surpreendentes para garantir que o assassino escolhido por ela a escolha para manter um relacionamento. Algumas se relacionam até com mais de um assassino famoso e não é raro que se casem com eles e, por mais estranho que possa parecer, tenham filhos.

Tribunal do Casamento

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Ted Bundy / Getty Images

No mundo do crime, Ted Bundy representa a epítome do serial killer bonito e charmoso. Pego em 1978 após uma sucessão de assassinatos na Flórida, ele confessou pelo menos 30 outros desde 1974 — embora investigadores acreditem que o número possa ser muito maior.

Bundy usava seu charme para enganar universitárias, pedindo para que elas o ajudassem a carregar algum objeto até o seu Fusca. Ele então as atacava e as levava para uma área remota onde o assassinato era consumado. Muitas vezes ele retornava ao local onde deixou os cadáveres para cometer mais atos desprezíveis.

Ex-estudante de Direito, descobriu-se posteriormente que ele havia trabalhado num centro de apoio para pessoas suicidas e que tinha um ótimo relacionamento dentro do Partido Republicano em Washington. Mas em vez de usar sua inteligência para fazer carreira, ele optou por usá-la para atrair e matar jovens mulheres. Segundo seus relatos, mais de 30 foram brutalmente torturadas e assassinadas: seios dilacerados a mordidas; vaginas mutiladas por estacas, cabeças arrancadas; necrofilia… alguém poderia imaginar que alguma mulher ainda se interessaria por ele após saber destes horríveis detalhes?

Quando foi preso na Flórida, Bundy recebeu uma grande atenção da mídia, e com isso, centenas de mulheres com muito amor para dar. No livro “The Stranger Beside Me”, Ann Rule observou que muitas dessas mulheres, quando o viam, ficavam assustadas. Já algumas outras, eram incapazes de associar Bundy aos tipos de crimes de que ele era acusado, firmemente acreditando que ele era inocente. Durante seu julgamento, o tribunal ficou lotado de mulheres que iam para mostrar seu apoio. Muitas delas até se arrumavam de forma a parecerem com o tipo de vítima preferida do serial killer: morenas com cabelos lisos compridos e partidos ao meio. Entre essas mulheres destacou-se uma: Carol Ann Boone. Para ficar perto do psicopata, Boone mudou-se de Washington para a Flórida e logo se tornou uma sensação da mídia.

Boone acreditava na inocência de Bundy e aproveitou todas as oportunidades para afirmar como ele estava sendo injustamente acusado. Quando ele foi condenado, ela manteve sua postura durante a fase de sentença e até chegou a testemunhar em sua defesa.

Então veio a surpresa.

Aproveitando de uma velha lei estadual que permitia uma declaração no tribunal para constituir um casamento legal, Bundy se levantou de sua cadeira e propôs casamento a Boone. O tribunal estupefato, ficou ainda mais atônito quando a mulher, com um sorriso no rosto, disse “Aceito”. O Juiz teve que declará-los casados ali mesmo.

De alguma forma, Boone engravidou do serial killer. Algumas fontes dizem que ele conseguiu ter relações conjugais com ela, outras dizem que ela contrabandeou seu sêmen para fora da prisão e foi inseminada artificialmente. Seja como for, Boone claramente era uma mulher que negava os fatos. Ela piamente acreditava na inocência de Bundy, mesmo tendo visto as marcas dos dentes do psicopata nas nádegas de uma das vítimas. Aparentemente, este assassino selvagem de mais de 30 mulheres a havia cegado completamente com seu charme. Com o passar dos anos, muitas outras mulheres escreveram para Bundy ou foram vê-lo na cadeia. Uma delas, inclusive, mais tarde se casou na prisão com outro serial killer.

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Carol Ann Boone, Ted Bundy e a filha do casal. À direita, Carol Ann.

Em “Women Who Love Men Who Kill” (“Mulheres que Amam Homens que Matam“, em tradução literal), Sheila Isenberg escreve que Boone pode não ter amado Bundy, mas sim um protótipo do que ela gostaria que ele fosse. “Ele foi sua criação, o que ela queria que ele fosse, não o que ele era”, diz ela. Como qualquer paixão que inevitavelmente desaparece, Boone, com o tempo, foi perdendo o encanto pelo serial killer até finalmente parar de vê-lo. No entanto, levou oito anos para ela acordar do sonho (ou pesadelo). Para o psicopata, claro, isso não teve a mínima importância. Durante seus anos preso Bundy sempre esteve cercado de atenção feminina, inclusive de uma de suas advogadas.

O Flautista de Hamelin de Tucson

Charles Schmid, 23, tinha o estranho hábito de se maquiar, de estatura baixa, costumava encher de jornais ou latas amassadas suas botas para parecer mais alto. Apenas isso já poderia nos fazer pensar que ele era do tipo que não chamava atenção das meninas, mas chamava. Devido a sua estatura, ele costumava andar com a galera do ensino médio e por ser mais velho e consequentemente ter mais conhecimento da rua, atraiu um pequeno grupo de seguidores. A lealdade de suas namoradas era conseguida com presentes baratos. Talvez em sua vizinhança em Tucson, Arizona, não havia muita coisa acontecendo, então um cara que “sabia das coisas” poderia ser uma boa companhia para espantar o tédio. Mas Schmid não estava contente apenas com admiração. Ele queria controle… e muito mais.

Na noite de 15 de Maio de 1964, ele convenceu os adolescentes John Saunders e Mary Rae French a acompanhá-lo ao deserto para uma missão homicida: estuprar e assassinar uma conhecida deles, Alleen Rowe. Ele a enterrou na areia do deserto e até se gabou com outros sobre o episódio. Como ninguém relatou nada, Charles se safou e sentiu-se ainda mais poderoso e importante.

No verão seguinte, ele estrangulou duas adolescentes e também as enterrou no deserto. Mais uma vez, ele tinha de se gabar a alguém sobre o seu feito. Mas quando ele mostrou ao seu camarada Richard Bruns o que havia feito, Bruns imediatamente contou a polícia. Apelidado pela mídia de “O Flautista de Hamelin de Tucson”, Schmid inspirou muitas perguntas sobre como alguém tão excêntrico poderia atrair a atenção de tantas garotas. Isso porque durante o seu julgamento várias meninas compareceram para mostrar o seu apoio ao pequeno serial killer. A escritora Joyce Carol Oates chegou a se basear em sua história para escrever “Where Are You Going, Where Have You Been?,  onde tentou entender o fascínio de tais homens a partir do ponto de vista de uma garota.

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Charles Schmid nas audiências preliminares antes do julgamento.

Cinco anos depois, outro homem de estatura baixa e de estranhos modos usou de seu magnetismo para colecionar fãs que matariam por ele.

Em 31 de Julho de 1969, o músico Gary Hinman, 34, foi esfaqueado até a morte por um grupo de pessoas que viviam com Charles Manson em um velho rancho nos arredores de Los Angeles. Na noite de 9 de Agosto, na casa alugada pelo cineasta Roman Polanski, cinco pessoas foram assassinadas a sangue frio, incluindo a mulher grávida do cineasta, a atriz Sharon Tate. Um dia depois, Leno e Rosemary LaBianca foram mortos e mutilados de forma semelhante no interior da casa do casal.

Um mês depois, uma jovem mulher chamada Susan Atkins confessou os crimes, alegremente tomando os créditos pela matança. A confissão levou a polícia até seus associados Leslie Van Houten, Patricia Krenwinkel, Charles Tex Watson e o suposto líder do bando, Charles Manson. Durante a investigação, documentado pelo promotor Vincent Bugliosi em seu livro “Helter Skelter”, o motivo para os assassinatos iludiu por algum tempo as autoridades, e quando foi verdadeiramente desmascarado, ninguém acreditou.

Manson tinha uma filosofia de que os negros iriam se rebelar contra os brancos, e para essa “revolução” explodir, deveria haver uma faísca. Ele então orquestrou duas chacinas e enviou seus seguidores para executá-las. Manson os usou como uma extensão de si mesmo. Durante o julgamento, a equipe de Bugliosi lutou para entender como aquele bizarro baixinho magricela conseguiu adquirir tantos discípulos do sexo feminino, algumas das quais fizeram vigília fora do tribunal, raspando a cabeça e tatuando suásticas na testa, muitas dizendo que matariam e morreriam por ele.

A resposta parecia ser que Manson as tinha resgatado de suas vidas miseráveis, fazendo-as se sentirem amadas, dando-lhes um senso de propósito. Elas acreditavam que eram parte de algo maior. Ele as comprava com comida, dogmas filosóficos e drogas até chegar ao ponto delas acreditarem que ele era um messias, a reencarnação de Jesus Cristo. Ao cometer os assassinatos, elas estavam fazendo algo “bom”, porque o próprio Jesus as pediu.

Em Janeiro de 1971, o júri condenou Manson e duas das garotas, Susan Atkins e Patricia Krenwinkel, em sete acusações de assassinato em primeiro grau. Leslie Van Houten foi condenada em duas acusações de assassinato, e em um julgamento separado, Tex Watson também foi condenado. Mas não parou por aí. Manson ainda tinha sua “Família” nas ruas e, em 1975, uma de suas seguidoras, Lynette Fromme, tentou, sem sucesso, matar o presidente dos Estados Unidos Gerald Ford.

Para explicar os bizarros acontecimentos em que o culto de Manson esteve envolvido, Bugliosi explorou a vida de cada um da “Família” e mostrou que as três garotas que mataram por Manson possuíam uma síndrome de raiva que vinha muito antes delas conhecerem o psicopata, e descobrindo isso, Manson usou em benefício próprio. Cada uma delas tinha algum problema pessoal que Manson explorou. Ele as fez se sentirem únicas ao ponto de fazer qualquer coisa por ele.

Em “Mass Murder” (“Assassinato em Massa”), Jack Levin e James Allen Fox explicam a análise da psiquiatra Clara Livesey, que afirmou que Manson operava de uma maneira similar a outros líderes de cultos, usando seu carisma único para manipular seus seguidores. Ele desenvolveu neles a crença de que ele era invencível, até mesmo sobrenatural, no mesmo patamar de Cristo. Eles não tinham a violência em suas mentes quando se juntaram ao culto, mas uma vez fazendo parte daquela filosofia, sendo ligados e submissos a Manson, não tardou para que eles dessem um passo à frente, não questionando nem mesmo suas ordens de matança.

Quem são elas?

Quanto mais perigoso, sanguinário e sexualmente predador, mais elas desenvolvem uma visão romântica deles.
[Gilmar Rodrigues. “Loucas de Amor”]

Alguns definem admiradoras de serial killers como mulheres que se apaixonam por serial killers que estão presos e aguardando julgamento (ou na cadeia). Já outras definições incluem qualquer um, homem ou mulher, que demonstra algum tipo de obsessão com serial killers, ao ponto extremo de desenvolver uma atração emocional.

Em qualquer caso, é certo que serial killers inspiram um certo magnetismo em algumas pessoas — a maioria (mas nem sempre) mulheres — e especialistas tem oferecido uma variedade de razões para isso.

Fantasias de Resgate: as admiradoras de serial killers querem acreditar que elas tem a habilidade de mudar alguém tão cruel e poderoso como um serial killer.

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“Com um pouco de amor e afeição ele poderia ser um cara maravilhoso”, disse Karen Rasmussen, admiradora do serial killer Jeffrey Dahmer. Foto: Reprodução/O Aprendiz Verde.

Necessidade de Criação: muitas mulheres dizem ver uma criança nesses assassinos e sentem um desejo enorme de criar e proteger essa parte dele.

O Namorado Perfeito: ela sabe onde ele está (cadeia), e ao mesmo tempo em que ela pode dizer aos outros que existe alguém que a ama, ela não tem que passar pelos estresses diários intrínsecos à maioria dos relacionamentos; ela pode manter essa fantasia amorosa por muito tempo.

Necessidade de Drama: durante o julgamento, os eventos e acontecimentos diários na vida dos serial killers pode atrair mulheres que gostam de uma atmosfera contraditória, com a possibilidade de que algo surpreendente possa acontecer.

Hibristofilia: algumas pessoas ficam excitadas sexualmente por outros que cometem violência.
Exclusividade: existe um verdadeiro sentimento de apropriação sobre determinado serial killer — que de alguma forma é especial — entre aquelas que se sentem intimamente associadas a ele.

Recuperar o Macho Perdido: mulheres que foram abusadas, negligenciadas ou cresceram sem a figura de um pai, buscam no assassino essa necessidade.

Fantasias Vicárias: algumas mulheres desejam viver além dos seus pensamentos de violência através de uma pessoa que realmente poderia machucá-la.

Baixa Autoestima: algumas mulheres acreditam que não podem encantar um homem e tendo em vista que prisioneiros são sozinhos e desesperados, acaba sendo uma maneira fácil de se envolver.
Atenção: quando elas se envolvem com um assassino, pessoas começam a falar sobre elas e até mesmo ficam famosas saindo em reportagens da mídia.

Eminência: de ninguém, elas se transformam em alguém.

A Chance de Mostrar o seu Valor: elas se voltam contra o mundo numa acalorada discussão a favor do amado.

Síndrome da Bela e a Fera: elas gostam da ideia de estarem tão perto de um perigo que provavelmente não iria machucá-la, mas sempre há uma chance — a emoção de estar no fio da navalha.

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O serial killer Oscar Ray Bolin Jr. e sua admiradora Rosalie Martinez. A advogada Rosalie era casada com um advogado quando conheceu o psicopata, “Ele tirou minha respiração”, disse ela sobre o primeiro encontro dos dois. Posteriormente ela largou seu marido, com quem tinha quatro filhas, para casar-se com Bolin.

Interessantemente, muitas admiradoras de serial killers são estudadas e atraentes. Algumas possuem dinheiro e até são casadas, como o exemplo acima. Um pequeno número são mães e uma grande parte trabalha com psicologia ou direito, duas áreas diretamente ligadas a criminosos. Em seu livro, Sheila Isenberg cita o psiquiatra Park Dietz:
Eu ficaria surpreso se elas [admiradoras] não estivessem entre as mulheres mais necessitadas e dependentes. Como na cura pela transferência na psicanálise, as mulheres estão sugando uma parte do ego dos homens, o que lhes dá a ilusão de estar no controle.
Em outras palavras, se envolver com homens violentos lhes faz sentir mais fortes. Elas podem então transcender sentimentos de vulnerabilidade e baixa autoestima, fazendo-as se sentirem mais vitais.
Essa ‘cegueira emocional’ nos mostra um perfil feminino com uma autoestima extremamente baixa e um desejo irreal de modificar um criminoso, desejo esse que se torna um estímulo para que ela se sinta poderosa e dominadora. É como se ela tentasse tapar todas as dores e humilhações de sua vida fazendo contato com um indivíduo que é para ela a salvação para sua vida vazia e amarga.
[Tatiana Ades, psicanalista]

Isenberg também escreve que uma “grande porcentagem foi criada como Católica e bastante afetada pelos ensinamentos da igreja, incluindo o sexo, subjugação de mulheres, e repressões da sexualidade.” Ela também escreve que os pais foram muitas vezes ausentes ou abusivos, e as mães, muitas vezes, exigentes. Muitas dessas fãs de serial killers também tiveram relacionamentos ou casamentos desastrosos.

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Créditos: The Sun

Em Fevereiro de 2014, o site The Siberian Times publicou uma matéria sobre Natalya, admiradora do serial killer russo Alexander Pichushkin. Como muitas admiradoras desses psicopatas, Natalya teve um casamento desastroso, separou e caiu na bebida. Foi “salva” quando viu o Maníaco de Bitsa na TV. “Foi amor a primeira vista. Ele se tornou meu raio do por do sol”, disse ela em uma entrevista para a rede russa NTV. Desde 2007 ela troca cartas com o serial killer e o chama de “meu marido”. Foto: NTV.

Essas mulheres se dedicam inteiramente ao homem e fazem sacrifícios significativos, tais como sentar por horas toda semana para esperar por uma breve visita olho a olho na prisão. Elas podem desistir de seus empregos ou famílias para estarem perto de seu verdadeiro amor, e certamente irão gastar dinheiro com eles — talvez tudo o que elas tem. Enquanto os serial killers estão apenas usando-as, elas estão cegas demais para perceber.
Ela despreza tudo o que ele fez e acredita que um homem que odeia as mulheres pode amá-las. Há uma distorção da realidade, uma psicose. Tem uma adrenalina só de pensar em se envolver com o outro que mata e destrói. É algo químico. Muitas são instruídas, têm formação, mas não possuem inteligência emocional, que é a capacidade de agir perante os obstáculos da vida e perceber quando alguém representa um perigo pra você… Eles não têm empatia pelo outro ser humano. Simplesmente usam essas mulheres para brincar.
[Tatiana Ades, psicanalista]

Algumas dessas mulheres também são atraídas pelo status de celebridade que ganham, mesmo que o meio para isso seja duvidoso. Elas gostam de ir em programas de entrevistas para proclamar seu amor e reafirmar que o seu amado não é capaz de tais crimes, ou que é diferente agora. Elas podem até reivindicar os “créditos” pela “mudança” dele, como se o amor dela  fosse o ingrediente mágico.
O fator fama, com certeza, pesou no caso das mulheres que procuraram o Maníaco do Parque… É possível concluir que o fator fama é um fator de atração ‘externa’, as outras causas estão na personalidade das mulheres e do criminoso. Junta-se uma mulher com baixa autoestima e um sociopata com grande autoconfiança e poder de sedução que crescem com a fama, e temos o paradigma de um caso entre um serial killer e estuprador e uma mulher.
[Gilmar Rodrigues. “Loucas de Amor”]

Em 1997, Richard Wrangham e Dale Peterson escreveram “Demonic Males: Apes and the Origins of Human Violence” (“Machos Demoníacos: Macacos e as Origens da Violência“, em tradução literal) onde examinam e revelam como os macacos podem muito nos dizer sobre a violência humana. Segundo os autores, homens são os instigadores do estupro e guerra, é o gênero com maior probabilidade de ser violento. Mas e as mulheres?

Observando macacos, mais especificamente os orangotangos, os dois cientistas perceberam que as fêmeas preferiam os machos maiores, mais agressivos, os que mais eram barulhentos e que demonstravam claramente sua masculinidade. Os machos maiores estavam sempre prontos para lutar contra outros machos, e as fêmeas muitas vezes se aproximavam deles depois de vê-los brigar. Nos encontros sexuais subsequentes, elas pareciam estar dispostas e descontraídas.

Generalizando isto com humanos e, especificamente, às fãs de serial killers, teóricos tem dito que tais mulheres podem estar respondendo à masculinidade ostensiva do homem que fez o ato mais brutal que se possa imaginar. Ou seja, em seu subconsciente, elas poderiam estar comparando o tipo de violência cometida por um serial killer a um macho superprotetor em suas vidas, que produziria uma prole saudável e que, principalmente, seria macho o suficiente para protegê-los, garantindo assim uma boa chance de sobrevivência. Assim, estas mulheres estariam respondendo a um impulso biológico sem ao menos ter noção disso.

“Mulheres desenvolveram estratégias de respostas para o demonismo masculino,” afirmam os autores, “que incluem contramedidas e também colaboração.”.

Os autores são rápidos em apontar que isto não significa que as mulheres, em geral, preferem os machos mais violentos da sociedade, ou que elas gostam de crime ou criminosos. Significa apenas que características de agressividade — dentro do aglomerado de comportamentos que mostram dominância e sucesso — são atraentes para muitas mulheres, o que faz com que elas queiram se unir a eles. “De uma maneira distorcida, o macho que é o mais forte e dominante — o mais violento — parecerá ser o mais macho,” diz Elliott Leyton em “Hunting Humans”.

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Mark Nash | Créditos: The Journal

Recentemente jornais irlandeses publicaram que o serial killer Mark Nash está de coração partido e “paranoico”. Isso porque uma mulher que ele conheceu atrás das grandes parou de ir vê-lo na prisão. Ele a chamava de “minha esposa”. Em Julho último ele foi levado a um hospital após fazer greve de fome. O psicopata matou quatro pessoas nos anos de 1990 e cumpre pena de prisão perpétua em Co Laois, Irlanda.

Muitas dessas mulheres vieram de uma infância abusiva ou foram maltratadas. Algumas foram fisicamente, psicologicamente ou verbalmente abusadas. Elas são vítimas. Eu terminei com uma teoria de que se você está em um relacionamento com um homem que está atrás das grades ou no corredor da morte, ele não pode te machucar. Ela está no comando, no controle pela primeira vez na vida.
[Sheila Isenberg]

Serial killers não precisam ser bonitos ou atraentes para conseguir admiradoras. Cego de um olho, Henry Lee Lucas, assassino confesso de dezenas de pessoas, tinha sua própria quota de admiradoras. Apesar de seu relacionamento homossexual com o demente psicopata Ottis Toole, ele pareceu convincente, pelo menos para algumas mulheres, como um parceiro em potencial. Uma mulher chegou a se passar por uma ex-namorada dele, que o mesmo havia assassinado, num aparente plano para tirá-lo da cadeia.

Gordo e narcisista, John Wayne Gacy assassinou 33 adolescentes e os enterrou debaixo de sua casa. Mas sua homossexualidade latente não era um problema para suas admiradoras, e ele pôde até escolher com quem se casaria na cadeia dado o número de pretendentes, uma possibilidade que a maioria dos homens comuns não tem.

Apesar da beleza não ser uma de suas qualidades, o mais famoso serial killer brasileiro, Francisco de Assis Pereira, recebeu mais de mil cartas de admiradoras apenas no primeiro mês após sua prisão em 1997. Com uma delas se casou. Pós-graduada em História, de família judaica e classe média alta, a mulher que nunca teve o nome divulgado se apaixonou por ele após vê-lo na TV.

Como veremos nos exemplos a seguir, algumas mulheres conseguem exatamente o que querem, apesar de o “amor” que elas acreditam ter ser apenas uma ilusão.

Muitos para escolher!

Provavelmente, a “rainha” de todas as admiradoras de serial killers seja Sondra London. Sua “carreira” amorosa neste estranho mundo começou por acaso quando, na adolescência, namorou um rapaz que se tornaria um serial killer. Seu nome: Gerard Schaefer.

Condenado por dois assassinatos na década de 1970, Schaefer é suspeito em 34 outros casos e confessou o assassinato de 80 a 110 mulheres em 8 anos. Chamado de “imundo” pelo escritor Harold Schechter, Schaefer publicou um livro de histórias macabras – Killer Fiction – nas quais relata assassinatos de mulheres. Muitos especialistas acreditam que os relatos são reais, de crimes que ele próprio cometeu. Para publicar a bizarra obra, Schaefer contou com a ajuda de London. Há quem diga que o psicopata foi o primeiro amor dela. Após um breve relacionamento na adolescência, London reencontrou-se com Schaefer após sua prisão e os dois viveram in love durante um bom tempo. As fotos abaixo não me desmentem.

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Os adolescentes Gerard Schaefer e Sondra London. No futuro ele se tornaria um serial killer e ela a mais famosa admiradora desses psicopatas. Foto: Serial Killer Groupie Sondra London.

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Já preso por crimes hediondos contra mulheres, Schaefer posa com seu amor Sondra London. Foto: Serial Killer Groupie Sondra London.

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Durante mais de 20 anos Sondra London visitou seu amor de adolescência na cadeia. Foto: Serial Killer Groupie Sondra London.

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Gerard Schaefer e Sondra London. Foto: Serial Killer Groupie Sondra London.

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Foto: Serial Killer Groupie Sondra London.

Serial killers não são pessoas confiáveis e, talvez, podemos dizer o mesmo das mulheres que dizem amá-los. Após mais de 20 anos sendo paparicado, Schaefer teve uma infeliz surpresa: Sondra simplesmente deixou Schaefer para ficar com outro sinistro serial killer.

Podemos dizer que o grande momento da vida de London ocorreu em 1994. Durante o julgamento do “Carniceiro de Gainesville” Danny Rolling, o mesmo usou sua oportunidade de falar para cantar para a admiradora. A voz dele não era muito boa, mas todos notaram que o seu coração estava nela, e London olhou para ele emocionada, num dos mais bizarros episódios que alguém pode testemunhar. Um homem fazendo uma serenata é o sonho de muitas mulheres, mas e se esse homem for um serial killer estripador de mulheres? Para Sondra London isso não foi problema nenhum.

Rolling foi pego devido a uma fita de gravação de si mesmo que ele deixou perto da cena de três assassinatos. Ele alegou que uma entidade maligna chamada “Gemini” (alguém lembrou de “O Exorcista III” ou Jeffrey Dahmer?) o havia possuído (London defende essa versão em um livro que escreveram juntos, “The Making of a Serial Killer”), mas a história se tornou cômica quando os jurados descobriram sobre o personagem maligno do cinema.

Independentemente das alegações de Rolling, é claro que London negligenciou sua brutalidade, como muitas admiradoras fazem, e ajudou-o a revisitar seus crimes quando trabalharam no livro. Ela não pareceu ver esta colaboração como uma forma narcisista de Rolling evidenciar seus crimes. Em muitas partes, ele grotescamente pareceu se divertir.

Eles se conheceram em 1992 e dentro de seis meses estavam “em puro amor”. Em Fevereiro de 1993 eles anunciaram o noivado. Foi nessa época que ele finalmente confessou cinco de seus oito assassinatos. Sentenciado à morte cinco vezes, Rolling foi convencido por London a escrever sobre suas experiências, incluindo sua infância difícil com um pai abusivo e violento (o qual Rolling tentou matar quando adulto). “Você é o vento em minha árvore”, escreve ele para ela no livro. Rolling a chama de Lady London, sua alma gêmea, sua “extensão da verdade”.

London afirma nas “Notas do Autor” que no momento em que o livro foi lançado, o serial killer não estava mais oprimido por “forças obscuras”, mas o descreve como possuidor de três personalidades (embora ela não seja a pessoa mais credenciada a afirmar isso). O casal de pombinhos foi proibido, pelas leis da Flórida, de se casarem, e o conto de fadas teve um final infeliz em 2006 quando o carniceiro foi executado.
O mundo dos serial killers é um lugar muito estranho, onde o status é baseado em qualidades nas quais o mundo comum pode não ter consciência. Você pega um cara como Schaefer, ele ficou trancafiado por mais de vinte anos, ninguém lembra de seus crimes… e ele me vê na TV sendo cantada pelo mais novo serial killer do pedaço, que é mais jovem, mais bonito, mais interessante para a mídia, tem muito mais admiradoras… muito ruim Schaefer, eu não amo mais você!
[Sondra London no documentário “Serial Groupie”]

Mas se na Flórida London não pôde realizar o seu sonho de se casar com seu novo amor, o mesmo não podemos dizer da Califórnia e do Brasil.

Fascinação por Satanás

No verão de 1984, uma mulher de 79 anos foi morta em sua casa em Glassell Park, Califórnia, perto de Los Angeles. Sua garganta foi cortada e ela foi esfaqueada várias vezes. Dentro dos oito meses seguintes, ocorreram outros dois assassinatos semelhantes, seguidos de dois estupros de duas jovens.

Mais estupros e assassinatos se seguiram, e a polícia conseguiu a descrição do possível criminoso: um homem alto, magro, de cabelos longos, fedido e com os dentes podres. Em um dos incidentes, o assassino removeu os olhos da vítima e os levou com ele. Em outro, ele espancou duas irmãs idosas deixando símbolos satânicos desenhados na coxa de uma delas, que morreu. Apelidado de “O Perseguidor da Noite” devido a sua forma de atuação, em agosto de 1985 a polícia já o tinha ligado e pelo menos 14 assassinatos.

Então ele matou um homem, estuprou sua noiva e escapou em um carro roubado. Quando ele mais tarde abandonou o carro, a polícia conseguiu uma impressão digital. A evidência encontrada deu um nome ao assassino: Richard Ramirez, conhecido criminoso que já havia sido preso por tráfico de drogas.

Satanista conhecido da polícia, a foto de Ramirez foi amplamente divulgada na mídia e, em 30 de agosto de 1985, ele foi reconhecido na rua e espancado por uma multidão de pessoas. Ramirez foi acusado de 13 assassinatos e 30 outros crimes, incluindo tentativa de assassinato, estupro e roubo.

Apesar dos horríveis assassinatos, não demorou para que ele atraísse uma verdadeira coleção de admiradoras, que o viam como um corajoso representante do satanismo. Numa audiência preliminar, Ramirez elogiou Satanás e mostrou um pentagrama que havia tatuado na palma de sua mão. Enquanto esperava seu julgamento, ele recebeu centenas de cartas e visitas de admiradoras, incluindo a filha de Anton LaVey, autor de “A Bíblica Satânica”.

Na verdade, havia um grande número de mulheres querendo a atenção do serial killer e ele ficou feliz com isso. Ele nunca havia tido a atenção do sexo feminino e agora havia filas do lado de fora da prisão, todas aguardando no sol sua vez de vê-lo. Enquanto algumas alegavam que ele era inocente, outras apenas estavam lá porque o viram na TV e o acharam bonito e atraente. Algumas pareceram perceber o quão perigoso ele era e não demoraram para contar suas histórias nos jornais.

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Foto: The Night Stalker’s Groupies — 1990 KRON 4 Report, disponível no Youtube.

Várias fãs de Richard Ramirez compareceram ao seu julgamento vestindo-se de preto, em luto pelas acusações. Na imagem acima duas delas sorriem ao serem filmadas. “Bem, mas ele é um cara legal”, disse a de óculos escuro ao ser questionada pelo repórter sobre os 13 assassinatos cometidos pelo serial killer.

Mas dentre tantas fãs uma se destacou: Doreen Lioy, uma editora de revista freelancer com mestrado em Literatura Inglesa. Doreen viu uma foto de Ramirez (alguns relatos dizem em um jornal, outros na TV) e imediatamente se apaixonou pelo psicopata adorador do Diabo. Sentindo que ele precisava de uma amiga, ela escreveu para Ramirez uma carta. Ele escreveu de volta e ela se tornou sua defensora na mídia, insistindo que ele não poderia ter feito as atrocidades que foi acusado. Antes de conhecê-lo pessoalmente, Doreen supostamente escreveu 75 cartas para ele. E o encontro apenas aprofundou a ligação de Doreen com Ramirez, embora muitas vezes ele a tenha decepcionado, permitindo que outras mulheres o visitassem.

Durante todos os dias do julgamento de Ramirez, Doreen sentou-se em sua cadeira e alardeava suas palavras para qualquer jornalista que as quisesse ouvir. Ela comprou roupas para Ramirez e olhava com desdém para as outras admiradoras que apareciam. Doreen achava que ela era a única que realmente o amava, mas ela estava errada.

Ramirez acreditou que havia ganhado uma ligeira vantagem durante seu julgamento quando um dos jurados, Cindy Haden, pareceu se apaixonar por ele. Filha de um pai controlador, Cindy teve um casamento desastroso e mudou-se para Los Angeles porque achava que o seu destino era o estrelato. Escolhida como uma jurada suplente, Cindy teve a sua chance quando um dos membros do júri foi dispensado. No Dia dos Namorados, ela enviou um bilhete para Ramirez com a mensagem: “Eu te Amo”. Seus olhares e sorrisos eram simpáticos e Ramirez acreditou que, com Cindy, conseguiria um júri dividido, então ele fazia questão de olhar bastante para ela, como se a estivesse seduzindo com seu olhar e sorriso irônico.

Entretanto, ele não só foi condenado como recebeu pena de morte, com o júri decidindo de forma unânime. Cindy fez um gesto a Ramirez indicando que ela não teve escolha. Eventualmente, Ramirez a convidou para conhecê-lo e ela pode expressar seu amor por ele. Ela até levou seus pais na cadeia para conhecer o serial killer. Cindy passou a defender Ramirez em programas de TV e chegou a dizer que deveria ter resistido mais e convencido seus colegas jurados. Na sua opinião, Ramirez foi possuído pelo Diabo e seus advogados deveriam ter colocado essa questão na mesa.

Mas apesar de seus esforços, foi Doreen quem venceu a queda de braço. Ela permaneceu fiel enquanto outras se dissiparam. Eles ficaram noivos e em 3 de outubro de 1996 ela casou-se com Richard Ramirez. Doreen era virgem e aceitou o fato de que nunca poderia ser mãe, já que nunca conseguiria ter uma relação íntima com o serial killer.

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A admiradora de Ramirez, Doreen Lioy, é fotografada após se casar com ele na prisão. Foto: Associated Press.

Em 1997, Doreen deu uma entrevista insistindo que Ramirez era engraçado, charmoso e gentil. Apesar de todas as testemunhas e evidências, ela ainda acreditava que ele era inocente. “Eu acredito completamente nele”, disse ela.

Tudo por amor

Os Estranguladores da Colina, os primos Kenneth Bianchi e Angelo Buono, se casaram na cadeia após matar uma série de mulheres na Califórnia. Um deles, inclusive, chegou a instigar uma admiradora a matar por ele.

Quando preso, Kenneth Bianchi fingiu ter transtorno múltiplo de personalidade, uma alegação logo desmentida por um psiquiatra. Relutantemente ele fez uma acordo com a promotoria para acusar seu primo Buono, em troca de não receber a pena de morte.

Em 1982, o julgamento de Buono começou e quase um ano depois, no dia das Bruxas de 1983, ele foi condenado por nove assassinatos, recebendo nove penas de morte. Seu primo Bianchi recebeu cinco penas de prisão perpétua.

Durante o julgamento, uma reviravolta interessante ocorreu. O advogado de defesa de Buono trouxe para o tribunal uma mulher, Veronica Lynn Compton, que afirmou ter ajudado Bianchi a matar mulheres. A fala trouxe uma dúvida razoável para o caso.

A verdade é que Bianchi convenceu Veronica, sua admiradora, a matar por ele. Em junho de 1980, ela, um roteirista e uma atriz, contataram Bianchi na prisão. Veronica disse que havia se identificado com ele e queria que ele a ajudasse com um roteiro que ela havia escrito sobre uma serial killer mulher. Com o passar do tempo, o psicopata usou a fascinação de Verônica com ele para manipulá-la, orientando-a a sair pelo país matando mulheres de forma a mostrar que os Estranguladores da Colina ainda estavam soltos, assim, ele poderia confirmar para a polícia que eles haviam pego o homem errado. Pagando por sêmen de colegas detentos, Bianchi deu as amostras para Veronica para ela inserir nas vítimas, de forma a parecer um estupro seguido de homicídio.

Em a “Enciclopédia dos Serial Killers”, Newton descreve como Veronica foi até a cidade de Bellingham, Washington, e alugou um quarto no Motel Shangri-la. Percorrendo os arredores, ela avistou uma mulher que trabalhava em um bar. Achando que seria fácil despachá-la para o além, Veronica a levou até o quarto do hotel onde tentou estrangulá-la. Mas ela subestimou a vítima e sua força, que conseguiu escapar.

A admiradora de Kenneth Bianchi foi presa e acusada de tentativa de assassinato. Seu objetivo saiu pela culatra e ela foi condenada, perdendo para sempre qualquer chance de se relacionar com seu amor psicopata.

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Veronica Lynn Compton, em foto de audição para a Revista Playboy. Foto: Reprodução Internet.

Mas mulheres interessadas não seriam problema, e ambos os serial killers encontrariam o amor atrás das grades. Em 1986, Buono casou-se com Christina Kizuka, mãe de três, que o conheceu através de outro preso. Em 1989 foi a vez de seu primo Bianchi casar-se com Shirlee Book após três anos de correspondências. Bianchi era apenas um de vários outros prisioneiros os quais Shirlee mantinha contato. Os serial killers eram os seus preferidos e ela também tinha Ted Bundy em sua lista. Ela acreditava que Bianchi um dia sairia da prisão para viver com ela. Isenberg afirma em seu livro que antes mesmo de conhecer Bianchi, Shirlee já havia comprado seu vestido de casamento e elaborado os convites.

Nessa salada de amor, até mesmo Veronica Compton encontrou sua cara metade: outro serial killer. Fora sua sinistra trama com Kenneth Bianchi, Veronica também admitiu que ela e o serial killer Douglas Clark estavam planejando comprar uma casa mortuária para juntos fazerem sexo com cadáveres. Agora como ela se envolveu com este outro psicopata é outra história.

Manipulação

O casal Douglas Clark e Carol Bundy foram os responsáveis pelos “Assassinatos da Sunset Strip” em Hollywood, no começo dos anos 1980.  Carol aliciava mulheres nas ruas e as convencia a entrar em seu carro. Uma vez lá dentro elas eram atacadas por Clark que as forçava a atos sexuais, atirando em suas cabeças depois. Ele, então, fazia sexo com o cadáver e decapitava-os. Carol pegava as cabeças e maquiava-as fazendo-as parecer com a boneca Barbie, assim Douglas poderia mantê-las para seu prazer. Quando presos, eles foram acusados de seis assassinatos – cinco mulheres e um homem (amigo de Carol que ela assassinou e decapitou).

Enquanto aguardava seu julgamento, Clark bolou um plano. Ele descobriu que Veronica Compton estava na mesma prisão de Carol e viu uma oportunidade. Esperando ganhar sua confiança e afeição — via cartas sedutores (com direito a um cartão dos namorados decorado com o corpo decapitado de uma mulher) —, ele começou a corresponder. Veronica entusiasticamente respondeu às cartas cheias de violência e necrofilia de Clark e quando um júri a condenou por tentativa de assassinato, ele lhe enviou uma rosa. O objetivo de Douglas era que Veronica o ajudasse dando uma falsa confissão. Seu plano era convencer Veronica a dizer que Carol havia confessado a ela ter matado sozinha todas as mulheres.

Seu julgamento começou em Outubro de 1982. Mesmo com o julgamento dos Estranguladores da Colina acontecendo no mesmo corredor, Veronica foi arrolada como testemunha, e surpreendeu Clark ao pedir o direito de ficar calada. Foi o fim do relacionamento de ambos e em 28 de Janeiro Clark recebeu seis sentenças de morte.

Mas mulheres não seria um problema para o serial killer e pouco tempo depois ele se casou com Kelly Keniston, que o ajudou nos anos seguintes em sua cruzada para tentar provar sua inocência. Em um de seus estudos, o criminologista James Fox observou como Clark a tratava de maneira controladora e degradante. Isso não foi um problema para ela e o casal permaneceu casado por cinco anos.

Fixação Masculina

Em “A Enciclopédia dos Serial Killers”, Newton diz que esses psicopatas têm “um efeito quase hipnótico sobre o sexo oposto”, mas na verdade nem todos os fãs de serial killers homens são do sexo feminino. Um caso interessante é o do advogado americano Jason Moss, que chegou a escrever um livro para falar sobre seu intenso fascínio com serial killers.

Moss sempre minimizou seu interesse em serial killers, dizendo ser apenas um projeto, mas quem leu seu bestseller, “The Last Victim” (“A Última Vítima”, em tradução literal), pode notar um alto grau de excitação em suas palavras. Segundo ele, sua obsessão com serial killers começou aos 18 anos, época em que ele começou a corresponder-se com assassinos em série como Jeffrey Dahmer e Richard Ramirez e o psicopata Charles Manson. Embora as conversas tenham durado pouco tempo, com John Wayne Gacy a história foi diferente.

Para manter o “Palhaço Assassino” interessado nas cartas, Moss começou a ler romances gays para aprender o linguajar e fingir-se de homossexual. No fim, ele conseguiu visitar Gacy na cadeia. No livro, ele diz que o serial killer subornou os guardas da prisão para deixá-los sozinhos em uma sala privada. Entusiasticamente, Moss descreve como ele quase se tornou a última vítima do psicopata.
Ele [Gacy] estava pronto. Ele achou que eu ia fazer qualquer coisa que ele quisesse. Ele achou que podia me controlar. Ele tinha sua caneta, e ele me ameaçou esfaquear no pescoço, se fosse preciso. De novo, ele achou que estava em casa, que me tinha em algemas e poderia me controlar. Ele me agarrou e tentou me jogar sobre a cadeira, com a caneta no meu pescoço. Eu estava sozinho com esse cara que já havia feito isso antes e queria novamente.
[Jason Moss]

Na época, ninguém questionou Moss, nem mesmo o fato dele ter esperado Gacy morrer para lançar seu livro pareceu estranho para alguém. Com o serial killer morto, a história teve apenas um lado. Para muitos, se o encontro realmente ocorreu, os dois provavelmente tiveram apenas uma conversa de compadres.

De qualquer forma, o desejo aparente de Moss em conseguir fama através da associação com um sinistro assassino lembra muitas admiradoras de serial killers. Em uma entrevista para o site Salon.com em 1999, Moss disse que recebia cartas de pessoas de todo o país, pessoas que, como ele, compartilhavam a paixão pelo lado negro. Enquanto ele se diz chocado por tais sentimentos, suas palavras em seu livro não deixam dúvidas de que ele era como qualquer uma das admiradoras de serial killers descritas acima.

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Aos 19 anos Jason Moss tirou a foto acima com o serial killer John Wayne Gacy, dois meses antes da execução do Palhaço Assassino. Foto: Reprodução/O Aprendiz Verde.

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Jason Moss também correspondeu-se com Richard Ramirez. Na foto acima ele posa ao lado do serial killer e sua mulher Doreen Lioy. Foto: Dear Mr. Gacy.

Em 6 de Junho de 2006, Jason Moss atirou contra a própria cabeça em sua casa em Henderson, Nevada. Quatro anos depois seu livro foi levado ao cinema com “Dear Mr. Gacy”.

Victoria Redstall

Se Sondra London é a rainha de todas as admiradoras de serial killers, Victoria Redstall é a princesa.

Em 2006, Victoria foi capa de jornais após seus vários encontros com o serial killer Wayne Adam Ford. “Eu não sou aquelas lunáticas que buscam serial killers”, disse ela na época. Loira deslumbrante, seios fartos e ex porta voz da Herbal Grobust, uma empresa de venda de próteses de mama, Victoria até que tinha algo a ver com Wayne: o serial killer era famoso por ter enviado à polícia um seio de uma de suas vítimas.

Caminhoneiro, Ford foi condenado em 2006 pelo assassinato de quatro mulheres em 1997 e 1998 — três prostitutas e uma caronista. Ele desmembrou duas vítimas, mantendo os pedaços em sua geladeira. Ele esfaqueou sua primeira vítima, ainda não identificada, 27 vezes, removeu sua cabeça, braços, pernas e seios para fazê-la “parecer menor”. Ele descartou seu tronco no leito de um rio, o mesmo destino das três seguintes.

Seu casamento falido e seu abuso de álcool foram, segundo ele, as causas de seus problemas.

Redstall, uma aspirante a atriz que fez sua carreira aparecendo em pequenos papéis de vários filmes, convenceu um guarda da prisão de West Valley, em Rancho Cucamonga, Los Angeles, a levá-la até a cela do psicopata. Durante o segundo semestre de 2006, ela visitou Ford regularmente, muitas vezes ficando mais de três horas na prisão. Destaque no The Los Angeles Times em 1 de Agosto, ela disse a jornalistas que ela e Ford gostavam de cantar juntos música country e que sua voz lhe dava “arrepios”.

Como a maioria das admiradoras de serial killers, ela fantasiava sobre Ford, acreditando que o homem que ele foi durante seus anos de matança não era mais o mesmo dos tempos de prisão. Ela afirmou que ele estava cheio de remorso e, para acabar com qualquer possibilidade de perguntas indiscretas: “Nós todos temos o mal em nós”.

A Procura de Atenção e Publicidade

Durante o julgamento de Ford, Redstall conseguiu uma entrada alegando fazer parte da imprensa, já que supostamente estaria filmando um documentário. Enquanto o departamento de polícia de San Bernardino a barrou da cadeia, o juiz d tribunal permitiu que ela tirasse fotografias e levasse uma câmera. Ela e Ford inventaram uma série de linguagens de mão, de maneira que eles pudessem conversar apenas usando as mãos. Ela tirou fotos livremente até o juiz repreendê-la e, por fim, diminuir todo o acesso da imprensa ao julgamento. Após os argumentos finais, ela dirigiu até a van que levaria Ford até a prisão, de maneira que ele pudesse vê-la em seu conversível vermelho. Uma vez condenado, sua equipe de advogados negou o acesso de qualquer pessoa a ele.

“Eu confiei a Wayne minha vida,” disse Redstall em uma entrevista, adicionando que os dois eram um só. “Ele tem uma bondade, e uma consciência”, disse quase em suspiros.

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A obsessão de Victoria Redstall com o serial killer Wayne Ford foi capa de jornais nos Estados Unidos.

Muitas pessoas acreditam que Redstall entrou nessa barca apenas pela publicidade, já que sua carreira como atriz estava quase que enterrada. Seu documentário não saiu e com o desaparecimento do interesse com o serial killer, Redstall desapareceu da mídia.

Em uma última tentativa de atenção, ela declarou que passaria a procurar pela cabeça da primeira vítima de Ford. De acordo com uma reportagem do San Bernardino Count Sun, ela alegremente se referiu à sua aventura como a “caçada pela cabeça”. Em 2011 ela lançou “Serial Killers Up Close and Very Personal: My Death Row Interviews with the Most Dangerous Men on the Planet” e, desde então, tem se dedicado a escrita de livros sobre serial killers. Para 2016 ela promete um sobre o “Grim Sleeper“.

Admiradoras Made in Brazil

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Thiago Henrique Gomes da Rocha | Créditos: Aline Caetano

O mais notório caso de assassinatos em série no Brasil desde o Maníaco do Parque deu ao serial killer goiano Tiago da Rocha a exposição midiática necessária para ele atrair uma legião de admiradoras. Em reportagem do site R7, as advogadas do psicopata disseram que recebem dezenas de e-mails e mensagens no Whatsapp de mulheres que se mostraram interessadas em conhecer o serial killer. Muitas, inclusive, vão até o presídio onde ele está preso na tentativa de falar com ele. “Alto, forte, com traços bem desenhados, Rocha chamou a atenção de jovens, que se mostraram interessadas em tentar uma aproximação, em saber mais sobre ele,” diz a reportagem.

Muitas mulheres se tornam fãs de serial killers antes mesmo da chegada da mídia. Para elas, o simples vício erótico que elas experimentam na presença de um homem perigoso já é o suficiente para cegá-las.


Meu cliente é um homem bonito. Isso atrai muitas mulheres. Elas escrevem falando que se apaixonaram e que querem se casar com ele.
A fala acima é do advogado Rodrigo Bizzotto, defensor do “Maníaco de Contagem”, serial killer responsável pelo assassinato de cinco mulheres na cidade de Contagem, Minas Gerais, entre 2009 e 2010.

Alto, bonito e de olhos verdes, Marcos Antunes Trigueiro estuprava e estrangulava mulheres morenas, magras e de cabelos lisos. Condenado a mais de 120 anos pelos crimes, o serial killer logo se tornou o campeão em recebimento de cartas quando pisou em sua nova moradia: a Penitenciária Nelson Hungria. Foram centenas de cartas de admiradoras apaixonadas, muitas propondo namoro e até casamento. Mas o psicopata, que é casado, permaneceu fiel a esposa.
De forma curiosa, Marcos se considera fiel à mulher. Diz que, tirando os estupros, nunca a traiu. Rose [esposa] o visita frequentemente na cadeia, e lhe pediu que não recebesse as correspondências, senão ela o largaria.
[Rodrigo Bizzotto, advogado de Marcos Trigueiro, o “Maníaco de Contagem”]

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Foto: Reprodução/O Aprendiz Verde

Marcos Trigueiro, o “Maníaco de Contagem”, aguardando sentença pelos seus assassinatos. Serial killer foi condenado a 129 anos de prisão e é um dos presos que mais recebe cartas de admiradoras em Minas Gerais.

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Em Novembro de 2014, a atriz Luana Piovani foi até as redes sociais e criticou as fãs do serial killer fictício Edu, da minissérie Dupla Identidade. Foto: Instagram.
Se estou conversando com uma moça, e ela me diz que gosta de aviões, então eu passo a ser piloto. Se ela diz que gosta de automobilismo, eu viro Ayrton Senna. Se daqui a uns seis anos me soltarem na praça da Sé, Em São Paulo, naquele mesmo dia eu carrego uma menina de lá para onde eu quiser.
[Francisco de Assis Pereira, o “Maníaco do Parque”]

Em “Loucas de amor, mulheres que amam serial killers e criminosos sexuais”, o jornalista Gilmar Rodrigues faz um interessante mergulho no estranho mundo das admiradoras de serial killers. Segundo o jornalista, seu interesse no assunto começou quando descobriu que mulheres escreviam cartas apaixonadas a Francisco de Assis Pereira, o “Maníaco do Parque”, “príncipe” de todos os serial killers brasileiros.

E o maníaco realmente era um príncipe para muitas mulheres. Foram mais de mil cartas endereçadas a ele somente no primeiro mês após sua prisão e esse número não caiu nos meses seguintes. Em “Loucas de Amor”, Gilmar nos conta sobre algumas de suas admiradoras: Marisa, a esposa; Karina, o perdoador;  Jeane, a apaixonada casada; Regina, a namorada legítima; Renata, a fantasiosa;
Olha, meu amigo, quem inventou a saudade não imagina o mal que estaria fazendo, não imaginou a dor que iria causar às pessoas… Já faz muito tempo que eu não conhecia alguém de quem eu goste realmente. Uma pessoa com quem eu me importe, me preocupe… Você acalma a gente, o teu modo de falar, de ser, traz uma paz muito grande para mim.
[Trecho de uma carta escrita por Jeane ao Maníaco do Parque]
Estou morrendo de saudades de você, para ser sincera nesses últimos três meses tenho sentido muito a sua falta. Lembrando que você foi o único homem que mais me deu atenção, é disso que sinto falta, atenção…

Não quero que você me leve a mal, mas não quero saber de suas amigas, fiquei fula da vida quando você me falou que se pudesse me levaria para morar com essa tal de Marisa. Que negócio é esse, morar com Marisa um caramba, se liga rapaz. Não penses que eu estou com ciúmes, mas não quero saber de suas amigas.

Eu sei que nunca te esqueci e nunca vou te esquecer. Pode ser que mais tarde você fique um pouco longe de minha memória, mas por enquanto é difícil aceitar que eu te perdi, mas um dia eu supero isso.
[Trechos de cartas escritas por Regina ao Maníaco do Parque]
Na minha saudade flutuará a necessidade de sempre estarmos juntos (em espírito), como você desejava outrora e mais. Eu quis te amar outrora, você sabe!… Mas apesar de tudo foi bom ter te conhecido. Abraçado e beijado sua boca e apertado-te no meu corpo, etc. Acho que você não me esqueceu. Eu serei sempre tua… Por isso digo que te amo.
[Trecho de uma carta escrita por Renata ao Maníaco do Parque]

Certamente o circo midiático deu a Francisco de Assis Pereira a exposição necessária para que mulheres carentes, imaturas emocionalmente e desprovidas de propósito na vida, enxergassem nele a ovelha branca cercada por lobos vorazes e que, por isso, necessitava de ajuda e, mais especificamente, amor.
A natureza humana é muito diferente daquilo que comumente acreditamos. Também acho que não dá para julgar que essas mulheres sofrem de uma carência enorme e por isso são capazes de tudo. É muita simplificação. Não há estudos sobre isso. Em minha opinião, as mulheres que se apaixonam por assassinos em série de algum modo acreditam que podem salvar estes homens de sua monstruosidade. Certamente sentem-se destemidas e diferentes das demais e, assim, se entregam a esta missão. Vão buscar força para isso lá no fundo da natureza feminina.
[Estevam Vaz, psiquiatra]


Charles Manson e sua namorada "Star"
indiegogo, o aprendiz verde, psychology today