O Mistério do desaparecimento dos moradores de Lincoln Way

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Estamos em meados dos anos 70. Lincoln Way, um bairro da cidadezinha de Clairton, na Pensilvânia (EUA) se encontra praticamente abandonado. Seus moradores desapareceram misteriosamente do bairro, deixando para trás casa, móveis, pertences pessoais e até mesmo carros. O quê teria acontecido? O que provocou essa fuga em massa? Onde foram parar os moradores, e por que deixaram tudo para trás?
Por mais incrível que pareça, segundo alguns dos próprios ex-moradores que foram encontrados, a resposta pode estar associada ao sobrenatural.

Introdução à cidade

A fundação de Clairton remete a meados da virada do século 20, quando a Crucible Steel Company adquiriu uma grande área ao longo do lado oeste do rio Monongahela, cerca de 21 quilômetros ao sul de Pittsburgh. Logo depois, a Carnegie Steel Company do magnata Andrew Carnegie, construiu uma usina integrada de produção de siderúrgica e coque (um tipo de combustível derivado da hulha), que acabou se tornando uma das maiores do mundo.
Em 1922, Clairton foi incorporada como um município graças a um empurrãozinho da indústria que não estava gostando de ser taxada por 3 bairros diferentes. Seu crescimento atingiu o ápice nos anos 50 com mais de 19 mil habitantes e a partir dai o município entrou em declínio.

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Lincoln Way interditada. Reprodução/youtube

O mistério do bairro abandonado de Lincoln Way, em Clairton, tem sido objeto de especulação desde o início dos anos setenta, logo depois que os primeiros moradores fugiram, deixando todos os seus pertences para trás, incluindo um veículo, e simplesmente desapareceram sem deixar nenhum traço. É evidente que algo está errado no segundo em que você entra em Lincoln Way. Não se trata da calma do local abandonado mesclada com o clima assustador ou mesmo as casas que já foram preenchidas com famílias que estão completamente abandonadas. Os pátios, ervas daninhas e pertences espalhados ao longo de toda a extensão da rua são lembretes muito reais de que algo muito estranho aconteceu no local. Registros de cartório mostram detalhes de que as casas possuem os mesmos proprietários desde os anos setenta, mas os impostos só foram pagos para apenas três casas até hoje.

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Foto do carro deixado para trás pela família. Foto: Johnny Joo (architetural afterlife)

É difícil concluir o que é fato ou ficção no caso de Lincoln Way, mas a lenda fala de uma criatura; algo que não se parece com nenhum animal de que tenhamos conhecimento. As pessoas alegavam que essa criatura atormentava os moradores, levando-os à beira da loucura e do medo. Desaparecimentos de animais de estimação. Algo batendo, sacudindo e arranhando as laterais das casas. Odores estranhos que provocavam náuseas. Doenças constantemente os afligindo, e sumidouros, entre outras coisas estranhas...

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Cidade de Clairton em Maio de 73. Foto: Alexandrowicz, John L. (commons)

Juntando todos esses fatos com o abandono misterioso por parte dos moradores, a história da "fera de olhos vermelhos" de Lincoln Way se tornou uma espécie de lenda urbana nos arredores de Pittsburgh, atraindo curiosos e investigadores paranormais. O relato à seguir foi retirado do fórum Reddit, em um subreddit em que pessoas do mundo todo compartilham seus relatos de experiências assustadoras.


Eu sou um idiota. Eu deveria ter escutado, mas sou estúpido e teimoso. Quando alguém lhe diz para não colocar a mão no fogão quente, você escuta, certo? E se você não escutar, você se queima e não há ninguém para culpar a não ser você mesmo.

Tudo começou há duas semanas. Meus amigos e eu tínhamos alugado uma cabana perto de um lago para o fim de semana de abertura da temporada de trutas. Nós pescamos, bebemos cerveja, cozinhamos sobre a fogueira... Estávamos nos divertindo muito. Naquele sábado à noite, quando nos sentamos ao redor da fogueira com bebidas na mão, começamos a contar histórias de fantasmas. A maioria delas eram lendas urbanas antigas, algumas delas eram experiências pessoais, outras eram histórias "assustadoras" que terminavam com um insulto hilariante para a mãe de alguém. Foi tudo muito divertido. Isso até Max nos contar sobre Lincoln Way.

Lincoln Way era uma rua residencial em uma cidade perto de onde morávamos, no sudoeste da Pensilvânia. Todos nós estávamos familiarizados com isso. Meus pais costumavam ter um amigo que morava na última casa na rua sem saída, então eu passei uma boa parte do meu tempo lá quando eu era criança. A rua era uma espécie de esquisitice, porque todas as casas agora estavam abandonadas. Ninguém parecia saber por que os moradores de Lincoln Way pareceram fugir, deixando para trás comida, móveis e até carros. Um grupo local de "exploradores urbanos" havia postado recentemente um artigo em sua página no Facebook sobre o assunto, descobrindo que as casas ainda tinham os mesmos donos que tinham desde os anos 70, mas ninguém estava disposto a viver na rua agora toda coberta de vegetação. A maioria das pessoas presumia que as pessoas se afastaram de Lincoln Way por causa da economia em declínio que cobrava sua taxa em uma área já atingida pela pobreza, mas Max alegou conhecer melhor a história. Ele alegou conhecer a verdadeira razão pela qual a rua residencial não possuía mais moradores.

De acordo com Max, algo se escondia na floresta que cerca Lincoln Way. Algo não humano, mas não como qualquer animal que já vimos ou ouvimos falar. Ele alegou que essa criatura havia atormentado os moradores da rua. Os animais de estimação desapareciam só para serem encontrados alguns dias depois, mutilados na linha das árvores. Jardins dos quintal eram destruídos por patas grandes demais para pertencerem a coelhos ou cães. As pessoas eram mantidas acordadas à noite por causa de algumas coisas arranhando e batendo na parede de suas casas, ou rosnados e uivos que pareciam estar bem do lado de fora da janela. Supostamente, ninguém tinha visto a fera causando esse caos na Lincoln Way. Pelo menos ninguém que sobrou para contar a alguém sobre isso. Max alegou que a rua foi abandonada por causa do medo, com cada casa sendo deixada após seus habitantes serem assombrados por uma escalada de tormento da criatura. Isso explicaria por que a maioria das casas, se não todas, ainda continha tantos pertences. Você não tem tempo para transportar seus móveis em uma fuga e esvaziar sua geladeira se você está com um medo enlouquecedor.

Eu estava cético em relação à história, como qualquer pessoa razoável estaria. Lincoln Way pode não ter sido cercada por outras ruas residenciais, mas ficava ao lado de uma estrada principal. Essa estrada principal tinha um posto de gasolina e um bar a menos de um minuto por um lado da estrada, e uma cidade inteira a menos de dois minutos na outra direção. Certamente, se houvesse alguma criatura terrível na área, ela não se prenderia àquela estrada e ao pedaço de floresta que a rodeava. O amigo de meus pais havia saído daquele bairro há quase 20 anos, de modo que meu argumento de que "ele nunca tivera problemas com o pé grande" foi quase que imediatamente deixado de lado. Quando eu sugeri que fôssemos dar uma olhada no próximo final de semana, eu fui recebido com olhares horrorizados e exclamações de desaprovação: "Você não pode ir lá! Eu acabei de dizer que algo horrível vive lá!", "Porcaria nenhuma que eu vou pra lá, eu sou lindo demais para morrer.", e "Cara, mesmo que não haja algum monstro estranho lá, eu não vou me arriscar ser preso ou ferido vagando por uma rua cheia de casas que provavelmente estão desabando. E provavelmente existem muitos ratos. Eu odeio ratos." Foram apenas alguns dos argumentos que ouvi. Apenas uma pessoa, dentre os 5 outros caras que ficaram sentados ao redor da fogueira comigo naquela noite, estava disposto a explorar comigo. Seu nome era Sam, e ele era um cara grande, coberto de tatuagens. Sam era indiscutivelmente o maior fodão do nosso grupo, mas por trás da barba e dos desenhos de crânios e outras coisas loucas que estavam em sua pele, ele era um cara legal e um amigo leal. A única razão pela qual ele concordou em ir comigo foi porque ele não queria que eu fosse sozinho. Ele viu que eu estava determinado a desmascarar a história de Max, e me disse: "Eu não vou deixar seu traseiro idiota ir lá sozinho e ser assaltado por algum vagabundo ou alguma coisa estranha. Sua mãe ficaria puta comigo, e ela é muito mais assustadora que o Pé-Grande." Então, no próximo final de semana, no último sábado, para ser exato, Sam me pegou quando ele saiu do trabalho, e nós dirigimos até Lincoln Way.

Sam estacionou sua caminhonete azul na frente de uma das casas no começo da rua. Ainda estava claro lá fora, mas estava no final do dia, então trouxemos lanternas com a gente. Nós não sabíamos quanto tempo ficaríamos por lá, ou quão escuro seria dentro das casas em ruínas que estávamos determinados a explorar. Decidimos caminhar primeiro pela linha das árvores, o que significava caminhar pelos quintais enormes das casas. Tentamos procurar evidências de escavações nos pátios, mas a grama e as ervas daninhas estavam tão altas que demoraria uma eternidade para examinar o solo de onde elas cresciam. Andamos o comprimento da rua através do fundo dos quintais, atravessamos a rua no beco sem saída e descemos o lado oposto pelos pátios. Quando estávamos confiantes de que nada iria pular das árvores e nos agarrar, começamos a olhar para dentro das casas.

Sam e eu não estávamos confortáveis ​​em entrar em muitas das casas por causa de como elas estavam. As que não entramos, olhamos para o interior através das janelas do primeiro andar. Todas as casas do quarteirão estavam cheias de pertences, e a maioria parecia ter sido saqueada. A mobília estava revirada e jogada contra as paredes, fotos estavam espalhadas por todo o chão, as cortinas que ainda estavam penduradas estavam rasgadas e os travesseiros (almofadas e camas) estavam rasgados. De todas as casas, haviam apenas 4 ou 5 que não haviam sido saqueadas, e essas casas eram as mais perturbadoras. As casas em que entramos, que não pareciam ter sido atingidas por um furacão, pareciam que alguém poderia estar morando lá, exceto pela sujeira e lodo. Fotos ainda estavam penduradas nas paredes, livros ainda estavam nas prateleiras, camas haviam sido feitas e pratos estavam na pia. Uma das casas tinha comida na mesa, embora parecesse que algumas pequenas criaturas haviam mastigado há muito tempo. Parecia que os residentes anteriores literalmente apenas se levantaram e saíram no meio do jantar, sem se incomodar em levar nada com eles. Uma das casas que tinha garagem, a porta parecia ter caído do trilho há muito tempo, e ainda tinha um carro estacionado lá dentro.

O sol estava quase completamente encoberto quando Sam e eu saímos da última casa que havíamos explorado e estávamos completamente assustados com nossas descobertas, então decidimos que era hora de encerrar a noite e ir para casa. Estávamos andando em direção à caminhonete de Sam quando ouvimos: scraaaaatch, scraaaaatch, scraaaaatch... BANG. Nós congelamos, parados completamente imóveis no meio de uma estrada rachada, e ouvimos os sons por um minuto ou mais. Estava vindo de trás da casa à nossa esquerda. Sam sussurrou que deveríamos dar o fora dali, mas eu queria provar que Max estava errado. Como eu disse no começo, sou um idiota.

Eu lentamente fiz meu caminho em direção ao barulho, mantendo minha mão em concha na frente da minha lanterna. Eu estava prestes a virar a esquina para o quintal quando aquilo parou. Eu escutei por alguns segundos, permanecendo completamente imóvel. Eu podia ouvir algo vindo em minha direção lentamente, algo grande rastejando pela grama alta. Eu me pressionei contra o lado da casa e olhei para trás para ver Sam ainda parado no meio da estrada. Um rosnado profundo e gutural fez com que eu voltasse minha atenção para o jardim, e eu vi.

Aquilo estava de quatro e era do tamanho de um cavalo. O pelo grosso e preto cobria seu corpo massivo. As patas dianteiras musculosas possuíam garras mais longas que os meus dedos, e a boca estava cheia de dentes superafiados. As poucas pessoas que eu descrevi isso raciocinaram que deveria ser um urso ou um grande felino selvagem longe de seu habitat, mas não se parecia com nenhum deles. A cabeça da fera quase se assemelhava a um cachorro enorme, exceto pelos chifres empoleirados em ambos os lados. Eu olhei em seus profundos olhos vermelhos, enraizado em meu lugar com terror, enquanto essa criatura lentamente se aproximava de mim. Outro grunhido escapou de sua garganta e comecei a tremer tanto que deixei cair a lanterna. O movimento súbito e o clarão de luz pareceram assustá-lo. Aproveitei a chance e corri de volta para a rua, gritando para Sam entrar na caminhonete e ligar o motor. Eu podia ouvir patas pesadas batendo no chão não muito atrás de mim enquanto eu corria mais rápido do que nunca corri na minha vida. Eu me lancei na caminhonete de Sam, e ele engatou a marcha e fez um retorno para nos tirar dali. Os faróis da caminhonete iluminaram a fera por um momento enquanto ela parou no meio da estrada para evitar ser atingida. O que eu achava que era pelo, na verdade, estava mais perto de uma massa de espinhos de porco-espinho, e estavam eriçados enquanto a fera se agachava para pular na caminhonete. Sam estava correndo em direção à estrada principal quando ouvimos o uivo da criatura. Parecia doloroso e irado, como se estivesse morrendo de fome e chateado por ter sido negada uma refeição.

Agora sabemos porque o Lincoln Way foi abandonada. As pessoas foram assediadas, talvez pior, por algum tipo de monstro que reside na floresta, esperando que alguém investigue um barulho estranho para que ele possa atacar. Está faminto e feroz, e não está sozinho. Eu sei disso, porque quando Sam estava virando o caminhão durante a nossa grande fuga, seus faróis apontaram brevemente para a floresta. Foi lá que vi pelo menos mais três conjuntos de olhos vermelhos profundos e brilhantes.

Não acabou...


Bem, é claro que é apenas um relato; verdade ou não, exagerado ou não, apenas publiquei a fim de demonstar todo o folclore sinistro que cerca Lincoln Way.

Seja como for, o local já se tornou um point para pichadores, exploradores urbanos e investigadores paranormais, é claro. Uma investigação paranormal realizada em março de 2015 produziu supostas pistas sobre quem ou o que fez com que tantas famílias abandonassem subitamente o lugar que uma vez chamaram de lar. Apesar da rodovia 837 próxima ser uma fonte constante de tráfego, nesta noite, Lincoln Way estava estranhamente quieta, além de alguns ruídos inexplicáveis que emanavam da floresta densa, logo atrás das casas. O local foi palco de fenômenos inexplicáveis à medida que a investigação avançava, com a luz intermitente da rua que continuava em um padrão ominoso, ligando e desligando enquanto o grupo se aproximava de uma casa em particular. Depois de entrar na casa de número 149 da Lincoln Way, passos desencarnados rapidamente se tornaram evidentes e a temperatura caiu 15 graus (º F) quando estavam em frente à casa localizada diretamente no meio da Lincoln Way. Os investigadores descobriram que a segunda casa localizada no lado direito da rua enviou ao monitor de EMF um fluxo de atividade anormalmente alta até o momento em que eles saíram completamente da propriedade. [fonte]

Além de feras dos olhos vermelhos, agora fantasmas? Ê, lugarzinho...

O que dizem os ex-moradores?

Um fato interessante sobre Lincoln Way é que nem mesmo os moradores de Clairton parecem saber ao certo o que aconteceu no lugar, o que tem dado margem para muitas especulações selvagens.
O que frustra a maioria dos investigadores sérios é que quando pesquisamos sobre Lincoln Way, encontra-se virtualmente nada de concreto sobre o motivo pelo qual o bairro foi abandonado; encontram-se apenas um monte de sites de exploração urbana e lendas. Então, a melhor maneira de descobrir o que realmente ocorreu por lá seria questionar ex-moradores, os quais podem falar sobre o local com propriedade.

Dito isso, chegamos à antiga residente de Lincoln Way, Cindy Moore, que trabalha na Clairton Community Cares, além de outras três ex-residentes: Frances Booker, Meme Gatewood e Mildred Reed.

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À esq. Mildred Reed (com 5 anos, na foto) com suas irmãs. Mildred viveu em Lincoln Way desde o nascimento até a adolescência. A foto não foi tirada em Lincoln Way. À dir. Ex-residentes de Lincoln Way; da esquerda para a direita: Frances Booker, Meme Gatewood e Mildred Reed. | Cortesia: grounded.


A memória de Frances Booker é nítida para uma mulher de 91 anos recordando algumas das primeiras histórias. "Minha mãe disse que o apito da fábrica soava quando Andrew Carnegie subia e descia a State Street em sua carruagem". Carnegie estava supervisionando o que era então a Carnegie Illinois Steel, do outro lado da State Street. Frances lembrou que as casas foram construídas por Carnegie para seus trabalhadores e os afro-americanos foram atraídos para as comunidades siderúrgicas sabendo que poderiam encontrar trabalho. Todas as três senhoras relembraram as duras condições de trabalho, acrescentando que os negros frequentemente recebiam os cargos mais duros e escaldantes da fábrica. Elas se lembraram de seus pais voltando para casa com caixas de “doces da siderúrgica” para elas — um agrado brilhante e pegajoso que elas entenderam ser a recompensa do pai pelo trabalho penoso. Viver em meio à fumaça e fuligem foi aceito como contrapartida da segurança de um trabalho na fábrica. "Cheira como nosso pão e manteiga, é o que eles costumavam dizer", lembrou Reed referindo-se ao cheiro acre do ar poluído.

"Nós tinhamos tudo do que precisávamos"

As senhoras pintaram uma imagem de um enclave movimentado de famílias grandes que dependiam umas das outras. A rua era o lar de uma igreja e várias lojas. Um açougue fornecia carne de gado criado no fundo das casas, e jardins e pomares alimentavam os moradores. "Nós não poderíamos simplesmente ir à fonte de refrigerantes em Wilson", referindo-se à ala vizinha, predominantemente branca, de Clairton. "Eles não nos serviriam. Nós tínhamos que ser autossuficientes." Outras lojas externas eram conhecidas por enganar clientes negros, adicionando um pouco de peso extra à balança. Médicos, parteiras e outros profissionais viviam em Lincoln Way e cada um ajudava seus vizinhos.
Antes de os banheiros serem adicionados às residências, uma casa de banhos servia à comunidade. Foi a igreja, no entanto, que parecia ancorar a comunidade (a Igreja Getsêmani de Deus se mudaria posteriormente para Crest Street) e a oração desempenhava um papel central em suas vidas. A Sra. Booker lembrou que famílias grandes com oito ou dez crianças se ajoelhavam em oração todas as manhãs em sua casa. As senhoras creditaram a fé que estava viva na comunidade como motivo das muitas crianças criadas em Lincoln Way terem tido uma vida bem-sucedida, recebendo doutorados, tornando-se advogados e uma série de outras ilustres profissões. Todos cuidavam dos filhos uns dos outros. Se você fosse pego se comportando mal no final da rua, a notícia chegaria até seus pais mais rápido do que você poderia correr para casa. As famílias se ajudavam mutuamente em tempos difíceis, mas também celebravam a vida.

Com o tempo, Lincoln Way tornou-se uma rua dominada por viúvas, pois as esposas tendiam a viver significativamente mais do que seus maridos — o que não é de se estranhar, visto a insalubridade do local de trabalho.
Alguns trabalhadores foram transferidos para lá, mas não eram tão confiáveis ​​quanto os residentes de longa data. As crianças cresceram, saíram de casa e as casas ficavam vazias quando a matriarca ia para o hospital ou algo do tipo. As senhoras lembraram de uma amiga que comprou uma casa em Lincoln Way nos últimos anos. Ela pensou que seria um ótimo lugar para suas filhas adultas ficarem quando elas voltassem para Clairton para visitá-la. Ela mobiliou a casa, mas ficou arrasada ao descobrir que ela havia sido saqueada. O mesmo isolamento que deu à rua seu forte senso de comunidade no seu auge, também levou à sua morte.

É interessante salientar que a o abandono de todas residências de Lincoln Way não ocorreu do dia para a noite como muitas fontes na internet dão a entender. Os motivos apresentados pelos ex-moradores são os mais variados, mas existe algo intrigante que não podemos deixar de notar: Todos eles apresentam respostas evasivas quanto aos motivos de deixarem seus pertences para trás.

Os principais motivos apresentados foram "saqueadores", "odores estranhos", "buracos de erosão" e "ocorrências estranhas". Como uma comunidade sustentada pela fé e união acabou tendo um destino como esse? De onde surgiram as lendas sobre o local e o que seriam "ocorrências estranhas?"

 Bem, isso ninguém parece saber dizer ao certo ou preferem não responder.

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Imagem de satélite do local. Fonte: Google maps

Pilhas de coque emitindo vapores tóxicos estão situadas diretamente do outro lado da vizinhança, aguardando os trabalhadores carregarem o material carbonáceo em vagões para entrega nas siderúrgicas locais. Muitas pessoas especulam que a má qualidade do ar nos anos 60 e 70 poderia ter levado a um declínio na saúde das pessoas e animais que viviam tão perto da principal fonte de renda do vale, tornando uma escolha óbvia deixar essa vizinhança tóxica para trás.

Seguindo ao longo da 837, do outro lado da Lincoln Way, a tubulação pintada de verde da US Steel é um lembrete constante de que a maior fábrica de produção de coque dos Estados Unidos está localizada na rodovia. A siderúrgica está na mira da Agência de Proteção Ambiental por violações relacionadas à poluição mortal que representa riscos para a saúde dos moradores locais. A fumaça branca vinda das pilhas é sempre uma fonte de preocupação para as pessoas da cidade que moram nas proximidades, mesmo que os padrões de ar limpo atendam aos requisitos rígidos pela EPA.

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Clairton, Pensilvânia, é a sede da Clairton Coke Works da US Steel, que é a maior fábrica de coque dos Estados Unidos. | Foto: Pete Marovich

A fábrica de coque situa-se em um vale criado pelo rio Monongahela e a topografia tende a aprisionar a poluição mais pesada que o ar da usina. Como resultado, a usina vem acumulando um montante de multas de mais de US$ 3,9 milhões desde 2009 por exceder os limites de poluição do ar.

Seriam as "feras dos olhos vermelhos" apenas alucinações provocadas pelo ar poluído do local? Milhares de moradores da região que sofrem com doenças pulmonares podem ser um indicativo e quem sabe uma explicação mais terrena para o caso.

Vizinhança em Ruínas

Pulando décadas no tempo, o visual pós-apocalíptico de Lincoln Way impressiona, e os intrépidos exploradores urbanos e curiosos que se arriscam entrar no local, podem até escapar da besta dos olhos vermelhos, mas correm o risco de serem presos e autuados, visto que a polícia costuma fazer rondas pelo local, que tem a entrada proibida.

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Foto: Johnny Joo (architectural afterlife)
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Foto: Johnny Joo (architectural afterlife)
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Foto: Johnny Joo (architectural afterlife)

O aspecto mais intrigante e assustador de Lincoln Way é que dentro dessas casas podemos encontrar cenários dignos de um apocalipse zumbi, como se foram abandonada às pressas: as camas postas com lençóis e travesseiros, comida espalhada, pratos ainda em armários e alguns na pia, fotos de família penduradas, livros nas prateleiras e roupas ainda separadas para uso no dia seguinte, o qual infelizmente nunca chegou para essas casas.

Algumas das casas desse quarteirão abrigavam pessoas idosas, algumas das quais acabaram morrendo com pouca ou nenhuma família sobrando e, por qualquer motivo, ninguém se incomodou em limpar as casas. Uma estrutura particular ficou vaga desde 1972, após o último inquilino restante; uma mulher com o nome de ILem White morreu, deixando para trás todos os móveis e outros pertences, muitos dos quais ainda permanecem lá.

Entre os ex-moradores ainda vivos e/ou encontrados, não há um consenso entre um motivo real sobre o abandono do bairro. Se realmente existe algo à espreita nesta vizinhança desolada, ninguém sabe dizer. O saque e o vandalismo aumentaram os elementos mais profundos do que você esperaria ver em condições tão extremas, onde nada restaria, exceto os remanescentes expostos de tempos passados. Os perigosos sumidouros dão as boas-vindas aos visitantes desavisados, e a desolação se faz presente, acenando para aqueles que entram na outrora vizinhança feliz que não mais existe.

O silêncio sombrio e misterioso envolve Lincoln Way, deixando perguntas sem resposta sobre o que ou quem está por trás da ensurdecedora loucura que levou essas dezesseis casas ao abandono total.

O Incêndio de 2015

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Bombeiros no incêndio em Lincoln Way. Foto: Cindy Shegan Keeley | Trib Total Media

No dia 9 de Abril de 2015, os despachantes do condado de Allegheny foram alertados às 11:34 sobre o incêndio que envolvia um duplex e uma casa unifamiliar na Lincoln Way.

"Começou no meio", disse o chefe dos bombeiros de Clairton, Joseph Lazur. "Todas as casas aqui estão vazias, então vamos deixá-las queimar."

Na verdade, o chefe dos bombeiros disse que todas as casas estão na lista de demolição da cidade de Clairton.

"Agora eles podem vir até aqui com um trator e acabar com isso", disse Lazur.

Talvez em breve Lincoln way realmente venha a baixo e se torne apenas mais uma lenda do passado. Teria o incêndio sido provocado com intenção de "se livrar" do problema que era Lincoln Way? Mais uma para a pilha de mistérios.


Créditos: Dennis Turocy
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