Quem pôs Bella no Olmo escocês?

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Eles encontraram o corpo da mulher preso no interior de uma árvore. Como bombas nazistas que choveram em tempos de guerra sobre a Grã-Bretanha, sua morte poderia ter sido aproveitada apenas como mais uma estatística. Em vez disso, tornou-se um dos mistérios mais intrigantes da guerra. Foi um assassinato, mas a vítima nunca foi identificada. Haviam indícios que ela tinha sido um agente inimigo, e que as autoridades sabiam mais do que deixavam transparecer. Haviam aspectos ritualísticos fortemente sugestivos no assassinato,  que indicavam bruxaria e ocultismo. Por fim, haviam as mensagens anônimas grafitadas, surgindo em toda parte, com a pergunta que permanece sem resposta até hoje: "Quem colocou Bella no Olmo escocês?".

Tudo começou em abril de 1943. O corpo humano decomposto — à essa altura, pouco mais que um esqueleto — foi encontrado dentro de um tronco de árvore oco em Hagley Wood, cerca de dez quilômetros da cidade industrial de Birmingham, na região central da Inglaterra. Fragmentos esfarrapados de roupas e uma barata imitação de um anel de ouro, indicavam que a vítima tinha sido uma mulher. O esqueleto estava completo, exceto por uma coisa: a mão direita decepada da mulher foi encontrada à 12 metros de distância.

Um chumaço de tecido foi enfiado dentro da boca da vítima, e o patologista concluiu que ela havia morrido por asfixia. Ele estimou sua idade por volta de 35, e a hora da morte em cerca de 18 meses antes da descoberta do corpo — outubro de 1941. A polícia vasculhou registros em busca de relatórios de pessoas desaparecidas por todo o país, mas sem sucesso. Eles não conseguiram identificá-la a partir de registros dentários, e nenhuma etiqueta foi encontrada em qualquer peça de roupa sua. A identidade da mulher permanece um mistério total.

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O Olmo escocês e o corpo (imagens de 1943)

Existe uma possível pista na data do crime. Em outubro de 1941, no início da Segunda Guerra Mundial, bombardeiros alemães regularmente miravam em zonas industriais ao redor de Birmingham. Havia uma constante ameaça de invasão, e as pessoas estavam sempre à procura de paraquedistas nazistas. Um soldado de guarda local, lembrou-se de encontrar um paraquedas perto de Hagley Wood, em algum momento no outono de 1941, e de ver um carro de aparência suspeita estacionado em um bosque, perto de onde o paraquedas havia caído. Em 1953, um jornal local recebeu uma carta anônima afirmando que a vítima era uma mulher holandesa que estava trabalhando como agente nazista. Supostamente, ela seria parte de uma rede de espionagem que atuou como controladores aéreos avançados para aviões alemães, sinalizando o local dos alvos industriais, utilizando lanternas.
Existem evidências de que a história foi levada a sério pelo MI5, mas nada que sugira que qualquer ação oficial tenha sido tomada — exceto, talvez, um encobrimento da verdade. O esqueleto, com sua evidência forense potencialmente valiosa, desapareceu em circunstâncias misteriosas. Após a autópsia, o patologista enviou os restos à Universidade de Birmingham para a custódia, mas não existem registros de que a universidade o tenha recebido. A polícia tem obstinadamente se recusado a permitir que pesquisadores particulares ou jornalistas, tenham acesso aos arquivos do caso.

Uma das mais estranhas reviravoltas no caso veio em dezembro de 1943, oito meses após a descoberta do corpo. Um grafiteiro anônimo rabiscou uma mensagem enigmática na parede de um prédio na Upper Dean Street, no centro de Birmingham: "Quem colocou Bella no Olmo escocês?". Nas semanas e meses seguintes, mensagens semelhantes apareceram em toda a área — a mais famosa, foi feita no pedestal do obelisco Wychbury, apenas meia milha de onde o corpo foi encontrado. Até então, a ortografia tinha sido sutilmente e assombrosamente alterada — "Elm Wych" (Olmo escocês em inglês) havia se tornado "Olmo Witch" (Witch Elm, Olmo da bruxa).
O grafite é notável na medida em que dá à vítima anteriormente não-identificada, um nome — Bella. O nome foi comumente associado às bruxas, como uma forma abreviada de Belladonna. O corpo realmente foi encontrado em um Olmo escocês — uma árvore que também tem associações com bruxaria, embora a palavra "wych" historicamente derive de "wicker" em vez de "witch".
Nas tradições pagãs, o som de uma palavra é tão importante quanto o seu significado original. "Wych Elm" evoca imagens de feitiçaria, assim como "Wychbury" faz. "Bella" ecoa Belladona, e "Hagley" ecoa bruxa. Na verdade, Hagley Wood teve fortes associações com o paganismo e a bruxaria, e é reputado que Sabbaths de bruxas foram regularmente realizados lá, antes da guerra.

A conexão com a bruxaria e o ocultismo foi reforçada quando Margaret Murray se envolveu no caso. Uma professora aposentada da University College, em Londres, ela foi um dos primeiros acadêmicos a estudar bruxaria como uma tradição religiosa séria, em contraste com a imagem ignorante de "Adoração ao diabo" predominante na época. Ela apresentou a teoria de que a morte de Bella tenha sido algum tipo de sacrifício ritual, como evidenciado pela eliminação simbólica do corpo em uma "árvore bruxa" e a retirada da mão direita do corpo. Murray identificou isso como a "mão da glória" — um objeto ritual poderoso descrito no século 17 no Compendium Maleficarum.
A "teoria da feitiçaria", explica certos fatos que permanecem intrigantes na "teoria do espião nazista", como a mão decepada e a colocação do corpo em uma árvore. Por outro lado, por que a mulher nunca foi identificada, e por que as autoridades manteriam tanto segredo sobre o que sabiam acerca do caso? Esses fatos apontam mais para a teoria da espiã do que para bruxaria.

A minha opinião é que ambas as teorias estão corretas. Ao contrário do que ditam os séculos de preconceito e superstição, as bruxas não são pessoas inerentemente más. Como qualquer pessoa podem fazer tanto o bem, quanto o mal. Os nazistas, por outro lado, eram realmente maus. E se um grupo de bruxas descobriu que uma espiã nazista estava à espreita em seu meio? Talvez elas não tenham lidado com o problema à sua própria maneira... colocando Bella no Olmo escocês?

Bem, são apenas conjecturas. O mistério permanece.

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Grafite no obelisco Wychbury